Dr. Pedro Bertino Moreira
Oftalmologia Clínica e Cirúrgica
CRM-SP 127.789  CRM-DF 19885
Herpes Ocular

Quais são os tipos de vírus que causam o herpes ocular e os demais tipos de herpes?

A família dos herpesvírus inclui os vírus herpes simples (HSV), o vírus varicela zoster (VZV), o citomegalovírus (CMV), o vírus Epstein-Barr (EBV) e os herpesvírus humano 6, 7 e 8.

O acometimento ocular pode ser causado tanto pelo vírus herpes simples (HSV, mais comumente o tipo I) como pelo vírus varicela zoster (VZV).

O HSV divide-se em tipo I (causa predominantemente infecção acima da cintura e é transmitido por perdigotos e pelo contato direto; herpes labial, por exemplo) e em tipo II (causa predominantemente infecção abaixo da cintura e é uma doença sexualmente transmitida; herpes genital, por exemplo).

Como diferenciar os sintomas do herpes ocular e o de uma conjuntivite comum?

O quadro clássico de conjuntivite comum (geralmente causada por um adenovirus) consiste em olho vermelho com lacrimejamento, sensação de corpo estranho, ardência, prurido e fotofobia (desconforto com a claridade). Estes sinais e sintomas geralmente surgem em um dos olhos e em poucos dias, com a infecção do outro olho, progridem para um quadro bilateral.

O quadro causado por uma infecção herpética ocular pode ser idêntico, apresentando todos estes sinais acima, de forma inespecífica. Porém, geralmente o acometimento geralmente se restringe a um dos olhos. Assim, somente um exame oftalmológico, através do uso do biomicroscópio, pode diferenciar entre um agente viral e outro (adenovirus, HSV ou HZV), conduzindo o caso para o tratamento específico e promovendo a prevenção de sequelas que possam comprometer a visão. A auto-medicação pode piorar seriamente um caso não diagnosticado de herpes ocular e assim gerar sequelas graves à visão.

Por que, em geral, a doença se manifesta em só um dos olhos?

Estas manifestações são geralmente reativações de um vírus latente (isto é, "adormecido", sem atividade, repousando nos gângios sensoriais). Durante estas reativações o vírus faz a sua migração através de um nervo, até chegar à sua extremidade (pele, córnea, íris), onde aparecerão os sinais clínicos. Como este caminho é sempre o mesmo, a manifestação ocorre na maioria das vezes do mesmo lado.

É possível ter herpes ocular mais de uma vez ao longo da vida? Quem teve uma vez, poderá ter outros episódios da doença?

No caso do HSV, a primeira infecção (chamada de primoinfecção) pode ocorrer com poucos sintomas. No caso do VZV a primeira infecção gera o quadro de catapora. Ambos podem se resolver espontaneamente e ocorrem habitualmente durante a infância.

O vírus migra através do trajeto do nervo acometido ao gânglio trigeminal (na região anterior às orelhas), onde entra em estado de latência (como se estivesse "hibernando"). E pode permanecer por anos neste estado, sem qualquer manifestação.

Alguns fatores desencadeantes (viroses, baixa de imunidade, exposição excessiva ao sol, febre, traumas, distúrbios odontológicos e pós-cirúrgicos, estresse físico e emocional, AIDS e outros) por meio de mecanismos ainda não tão bem elucidados pela ciência, fazem com que o vírus que estava latente no gânglio seja reativado, migrando através dos nervos até os tecidos periféricos como a pele, córnea ou íris. Esta reativação e migração para órgãos periféricos é definida como infecção recorrente.

Ou seja, após a infecção primária e latência, o vírus pode ser reativado a qualquer momento da vida, gerando uma nova infecção na pele ao redor dos olhos ou nos tecidos oculares (herpes ocular recorrente).

Há como prevenir o problema?

A melhor forma de se ter um bom prognóstico em um paciente com olho vermelho é orientá-lo do seguinte:

Somente o oftalmologista está capacitado para, através do exame com biomicroscópio, estabelecer um diagnóstico preciso. Cada tipo de infecção viral pode causar sequelas diferentes e requer um tratamento direcionado.

A automedicação pode trazer graves consequencias à saúde ocular. O tratamento direcionado ao agente etiológico específico pode evitar ou minimizar sequelas importantes ao sentido da visão.

Pacientes com frequentes infecções herpéticas recorrentes podem apresentar algum distúrbio em sua imunidade, requerendo em alguns casos uma investigação mais detalhada. Além disso, o oftalmologista pode evitar uma manifestação recorrente ocular herpética através do uso de medicações profiláticas (em situações específicas, medicações que podem manter o vírus em latência e evitar uma reativação).

Tomar as precauções habituais para se evitar contágio da infecção quando alguém de seu convívio apresenta olho vermelho: lavar as mãos com maior frequencia, não coçar os olhos e procurar prontamente um atendimento oftalmológico.

Quais as manifestações mais gaves do herpes ocular?

Um local frequentemente acometido pelo herpes é a córnea, levando ao quadro conhecido como ceratite herpética. A doença corneana decorrente da infecção apresenta múltiplas manifestações (primária e recorrente, infecciosa e imunológica) que requerem tratamentos específicos e diferentes entre si.

Uma ceratite herpética mal conduzida pode levar a perda da visão devido ao desenvolvimento de opacidade de córnea severa. Mais raramente a infecção pode colocar em risco o globo ocular como um todo (perfuração corneana).

Outras complicações possíveis e graves são glaucoma, distorções de íris, catarata e úlceras neurotróficas.

Qual o tratamento indicado?

O tratamento levará em conta o aspecto, o local e a extensão das lesões oculares. Geralmente ocorre boa resposta ao uso de medicamentos antivirais por via oral ou sob a forma de pomadas. Quando a córnea está acometida por uma úlcera, alguns colírios antibióticos podem estar indicados para prevenir uma outra infecção (infecção bacteriana secundária). Outras medicações tópicas ou orais podem trazer alívio ao paciente durante o curso da infecção.

O tempo decorrido até a procura pelo atendimento oftalmológico influencia fortemente o prognóstico. O tratamento iniciado precocemente pode salvar um olho de sequelas visuais importantes.



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